E se fossemos apenas um?

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22 de Outubro de 2013 por ofutebolinteligente

ATLEMGCRU

E se houvesse apenas um time por cidade? A indagação parece estranha, talvez meio idiota, mas começa a fazer sentido quando observamos o cenário econômico do futebol brasileiro na atualidade e o que se desenha para os próximos anos. É consensual que há uma distribuição injusta das cotas de TV e demais receitas. Muito para alguns paulistas e cariocas (campeões de nove dos últimos dez campeonatos brasileiros) e  pouco para mineiros, gaúchos, baianos e paranaenses, certo? Portanto, o primeiro argumento seria financeiro, numa conta simples.

Cruzeiro e Galo ganham cada um aproximadamente R$ 50 milhões por ano da TV. Se houvesse um único time na cidade, ele ganharia 100 milhões. O mesmo aconteceria com o patrocínio master e com o número de sócios: em vez de 30 mil cada um, seriam 60 mil associados no mesmo clube. São várias as vantagens, tudo o que é dividido entre os dois, como torcida, dinheiro e jovens talentos que surgem por aqui, seria apenas de um. E este, obviamente, seria muito mais forte e teria mais condições de encarar o resto do país.

Neste momento, o leitor provavelmente já pensou: “mas a rivalidade é que é o gostoso do futebol”. De fato, ganhar do rival é muito bom para o torcedor, mas a rivalidade que temos em Minas, por exemplo, não é saudável. E antes que citem este 2013 de tanto sucesso como exemplo, vale lembrar que se trata de uma exceção, que não temos certeza que se tornará regra nos próximos anos. Na contramão dos prazeres que a tal rivalidade traz, como provocar, fazer piadas, etc. convido a imaginar:  não seria fenomenal se, em vez da cidade ficar dividida entre entusiastas e secadores, como nas vezes em que Cruzeiro ou Galo chegam à reta final de uma competição, tivéssemos uma única corrente, para no final festejarmos juntos, tal qual na Copa do Mundo com a seleção?

Exemplos disso são vários. Na Europa, boa parte dos clubes mais vencedores do continente não possuem rivais de grandeza semelhante em suas cidades. Munique, Dourtmud, Hamburgo, Amsterdam, Barcelona, Madrid, Liverpool, Turim e Manchester, antes do sheik comprar o City, são exemplos de lugares onde o futebol é quase que centralizado em um só grande clube, ainda que times como o Atlético de Madrid, o Torino(de Turim) e o Everton(de Liverpool) possuam lá sua tradição, mas sem qualquer tipo de paridade quando o assunto é torcida ou títulos. Londres, uma cidade extremamente “multi clubes”, com um estádio a cada esquina, só foi ver seu primeiro campeão da Liga dos Campeões em 2012, com o Chelsea. Por tudo isso, não seria melhor se não tivesse surgido tantos clubes em algumas cidades?

A resposta  é não. Ainda que custe bons resultados dentro de campo, o direito à diversidade é fundamental. Em tudo, não só no futebol. A ideia de todos terem que gostar da mesma coisa é terrível. As pessoas devem ser livres para opinar, gostar, acreditar e amar o que bem quiserem. E também para se identificar com o time de futebol que preferirem, independente da história, grandeza ou cores que ele tenha. Por isso, digo que a rivalidade, do jeito que vivemos atualmente, é doentia. As pessoas devem aceitar e respeitar a opção alheia, e não questionar e inferiorizar isso, querendo impor a própria crença ou a própria paixão, extrapolando até para vários tipos de violência,  como vemos por aí quando o assunto é futebol e em várias outras questões da sociedade.

Uma das melhores coisas que o futebol me ensinou durante a infância e adolescência foi que pessoas completamente diferentes podem gostar da mesma coisa(no caso, um time) e conviver igualmente no mesmo espaço(no caso, o estádio). Da mesma forma, pessoas de extrema afinidade podem se atrair por coisas totalmente antagônicas, como Galo e Cruzeiro. Por isso, que o direito à todas as escolhas nesse mundo seja tão livre quanto o de por qual time torcer.

Pedro Galvão

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